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Como me cuidar para ter um bom resultado com a Abdominoplastia? Parte 2 - dentro do hospital

Este texto é o segundo de uma sequência de artigos sobre cuidados a serem tomados durante a jornada cirúrgica de uma abdominoplastia.


Desenho no formato de aquarela de um corpo feminino. Fonte: gerada automaticamente por Adobe Express

Depois de apresentar os cuidados preparatórios, chegou a vez de conversarmos sobre o local do procedimento - o Hospital. Muitas pessoas ainda pensam que o Hospital é domínio absoluto de médicos, enfermeiros e os demais membros da equipe multiprofissional, e que não cabe ao paciente fazer nada além de receber os cuidados prestados. No entanto, hoje sabemos que essa postura passiva atrapalha o desfecho de qualquer tratamento, e que os melhores resultados são atingidos quando os pacientes se envolvem ativamente no planejamento e na execução de sua terapia.


Como fazer isso? Gostaria de chamar atenção para duas abordagens que considero muito importantes: a Alfabetização em saúde e a Autodefesa do paciente.

A primeira tem relação com o interesse da paciente em buscar informações relativas ao seu problema de saúde - como o que você está fazendo agora, ao ler este artigo😊. Quando uma paciente tem mais conhecimento sobre seu problema e sobre o tratamento que será aplicado, ela tem mais condições de compreender as instruções sobre cuidados pós-operatórios, facilitando sua adesão e tornando-a mais apta a identificar sinais de qualquer problema (e, consequentemente, a buscar ajuda mais cedo).

O segundo conceito (Autodefesa do paciente) se refere à capacidade de uma paciente defender seus próprios interesses ao decidir sobre o melhor para seus cuidados de saúde. Isso não significa que os profissionais dentro do hospital não estejam interessados naquilo que é melhor para a paciente - a questão-chave é que apenas a paciente consegue avaliar as opções de tratamento frente a seus princípios pessoais e circunstâncias de vida. Você pode estar se perguntando: como uma paciente, sem conhecimento técnico no assunto, poderia fazer a melhor escolha? Primeiro, com bastante informação - como eu havia explicado sobre a Alfabetização; segundo, com comunicação clara por ambos os lados - pacientes manifestando claramente seus objetivos, e profissionais sendo absolutamente transparentes com relação às opções e suas consequências; terceiro, por meio de intervenções personalizadas - aí está a importância de um tratamento individualizado, afinal se não existisse uma solução alternativa, qual o sentido da escolha? 🤔


Do ponto de vista prático, como podemos exercer esses conceitos dentro do hospital? Vejamos abaixo alguns exemplos para uma cirurgia de abdominoplastia:

  1. Esclareça suas últimas dúvidas: ao encontrar com seu médico no hospital antes da cirurgia, aproveite para fazer quaisquer perguntas remanescentes. Assim você terá certeza não apenas da decisão pelo procedimento, mas também de que terá condições de realizar os cuidados pós-operatórios necessários. Lembre-se que a cirurgia é apenas o primeiro passo para o resultado - nas semanas seguintes, você será protagonista dos cuidados necessários.

  2. Informe-se sobre seus direitos como paciente: não estou me referindo aos direitos garantidos por lei, pois isso é básico de qualquer serviço de saúde. Estou me referindo ao conjunto de compromissos assumidos pelos hospitais que garantem uma assistência mais segura e com maior participação dos pacientes. Itens como obter informações de forma clara e compreensível (inclusive de medicamentos, antes de recebê-los), saber nome e função de todos que participam da sua assistência, consentir ou recusar procedimentos, conhecer o canal de manifestação de suas preocupações, entre outros.

  3. Informe-se sobre os protocolos assistenciais: os protocolos não são apenas para treinar profissionais da saúde, pois muitos deles também demandam participação do paciente para atingirem seus resultados. Para uma cirurgia de abdominoplastia, é fundamental aplicar o protocolo de prevenção de Tromboembolismo Venoso, para que a paciente entenda a importância do caminhar precoce e, quando indicado, saiba utilizar as meias de compressão e/ou anticoagulantes (inclusive em casa, nos casos de maior risco). Outro protocolo importante é o de prevenção de Queda, pois o período perioperatório é mais propenso à ocorrência de quedas - afinal, depois de tantas horas deitada (na cirurgia e na recuperação anestésica), em jejum, e sonolenta pelo efeito residual das medicações anestésicas, a última coisa que você deve fazer é tentar levantar-se da cama sozinha.💫

  4. Participe do checklist de cirurgia segura: qual hospital não gostaria de reduzir em um terço o risco de complicações? É um benefício muito grande para uma ferramenta tão simples, mas infelizmente nem todos os serviços de saúde levam o assunto a sério - por isso a importância de escolher um bom hospital. Ainda que não participe de todas as etapas (afinal, duas delas são depois da indução anestésica 😴), você certamente estará mais tranquila ao saber que equipamentos foram checados, a cirurgia correta foi confirmada e que suas (eventuais) alergias são conhecidas por todos.

  5. Pergunte quais são os critérios necessários para a alta hospitalar: algumas pessoas acreditam que depois de terminada a cirurgia, basta pegar o caminho de volta para a casa, mas na verdade existem várias outras condições que também precisam ser cumpridas antes da alta hospitalar. Por isso é muito importante conhecê-las logo de início para que você possa buscar suas metas assim que retornar ao quarto. Para o pós-operatório imediato da abdominoplastia, podemos pensar nos seguintes exemplos:

    1. Dor com intensidade tolerável: as doses dos analgésicos devem ser suficientes para que a dor seja leve (por volta de 3, em uma escala de 0 a 10), sem limitar a movimentação ou respiração da paciente - isto é, se você não conseguir se movimentar na cama (ou não conseguir fazer uma inspiração profunda) por conta da dor, está na hora de pedir mais analgésico.

    2. Ausência de sangramento ativo: as incisões e a área descolada durante o procedimento habitualmente param de sangrar logo nos primeiros minutos após a cirurgia; a persistência do sangramento pode ser avaliada pela quantidade de sangue que extravasa através das incisões (curativos muito sanguinolentos são uma pista de que algo não está bem...), ou pelo acúmulo de sangue nos espaços disponíveis (hematoma).

    3. Ausência de náuseas ou vômitos: algumas medicações anestésicas podem dar náuseas, por isso a reintrodução da dieta após o tempo de jejum pré e intraoperatório precisa ser cuidadosa, e geralmente acompanhada por medicamentos para atenuar o enjoo.

    4. Conseguir se levantar e caminhar: sempre com ajuda, não apenas pelo risco de tontura e queda (como explicado na parte de protocolos), mas também para poupar esforço da musculatura do tronco, recém-operada.

    5. Segurança com relação aos cuidados pós-operatórios: esse é o item mais complexo porque envolve a capacidade de assimilar as instruções fornecidas pela equipe. Termos como deambulação encurvada, posição de Fowler, prevenção de tromboembolismo, controle de débito de dreno (entre outros) precisam fazer sentido para paciente e seus cuidadores, que devem se sentir seguros de que conseguirão executar essas tarefas juntamente com a administração de medicamentos, trocas de curativos extensos, banhos restritos e o manuseio da cinta compressiva (realmente não é nada fácil...😓).


Por mais longo que pareça, este é apenas um resumo do que pode ser feito durante sua estadia no hospital - se você quiser aprofundar a discussão desses temas, ou se sentir falta de algum outro item, fique à vontade para se manifestar nos comentários. 📝


Veja também os demais artigos da série de cuidados para a abdominoplastia:

  • Parte 1 - Antes da cirurgia

  • Parte 2 - Dentro do Hospital

  • Parte 3 - Primeiras semanas de pós-operatório (em breve)

  • Parte 4 - Cuidados tardios (em breve)


 

Para quem quiser aprender mais:


  1. Center for Disease Control and Prevention. Patient Engagement, 2021. Acessado em 09/07/2024: https://www.cdc.gov/healthliteracy/researchevaluate/patient-engage.html

  2. Weiser TG, Haynes AB. Ten years of the Surgical Safety Checklist. Br J Surg. 2018 Jul;105(8):927-929. doi: 10.1002/bjs.10907. Epub 2018 May 17. PMID: 29770959; PMCID: PMC6032919. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6032919/

  3. World Health Organization. Safe Surgery. Why safe surgery is important. Acessado em 08/07/2024: https://www.who.int/teams/integrated-health-services/patient-safety/research/safe-surgery

  4. Organização Mundial da Saúde, 2009. Segundo desafio global para a segurança do paciente. Manual - cirurgias seguras salvam vidas (orientações para cirurgia segura da OMS). Acessado em 08/07/2024: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/seguranca_paciente_cirurgias_seguras_guia.pdf

 


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