É muito comum ouvir das pacientes manifestações de preocupação com relação ao pós-operatório de abdominoplastia, não apenas pelos riscos (afinal, trata-se de uma cirurgia extensa) mas também por não saber como lidar com os cuidados após o procedimento.
Essa preocupação é natural, pois são poucas as pacientes que já passaram pela experiência de uma cirurgia abdominal de grande porte, e é por isso que nós, cirurgiões plásticos, não devemos minimizar essas angústias - precisamos acolher e esclarecer todos os questionamentos para conduzi-las a uma recuperação menos tumultuada.
Nesta série de textos, passaremos sobre as principais preocupações que afligem as pacientes que procuram (ou que já foram submetidas a) uma abdominoplastia.
Parte 1: antes da cirurgia
Assumindo que o essencial já está pronto - um cirurgião qualificado já foi escolhido (veja algumas dicas aqui e aqui), um diagnóstico cuidadoso foi constatado, as opções de tratamento foram apresentadas, os riscos foram esclarecidos, e a decisão pela cirurgia foi tomada. Ufa! Parece muita coisa, mas isso não é tudo. Há algumas questões mais práticas que nem sempre são tema de discussão entre cirurgiões e pacientes:
Arrume espaço em sua agenda: muitas vezes, quando são discutidos os prazos de afastamento e recuperação, as estimativas são intervalos médios, ou seja, podem variar para mais ou para menos. Eventualmente, tanto médico como paciente podem estar contaminados com um certo viés de otimismo - o médico na expectativa de que não aconteça nenhuma complicação, e a paciente torcendo para não ter de atrapalhar sua rotina de trabalho. Claro que não há problemas em usar o prazo médio como referência, mas ao organizar sua agenda pense também em quão fácil (ou difícil) seria estender o afastamento caso ocorra algum imprevisto. Se o transtorno for grande, talvez seja melhor reprogramar sua agenda...
Acione sua rede de apoio: em se tratando de cirurgia de grande porte, não vale a pena bancar a heroína e tentar resolver tudo sozinha. Chame seus familiares e melhores amigos pois você precisará, sim, de bastante ajuda - acompanhante para ir ao hospital, "babá" para cuidar das crianças, "cuidador" para auxiliar nas atividades diárias, e até mesmo um "enfermeiro" para realizar seus curativos. São muitos papeis, por isso sempre que puder chame o maior número de pessoas para distribuir essas tarefas.
Planeje sua alimentação: depois que a cirurgia já foi definida, não é saudável começar ou manter dietas muito restritivas por conta própria, pois seu organismo precisará de muita matéria-prima para conseguir se reparar após a cirurgia. Além disso, é muito importante definir um cardápio prático e equilibrado para o pós-operatório, afinal você não poderá cozinhar nos primeiros dias de recuperação (você pode resolver isso deixando alimentos congelados ou arrumando um bom cozinheiro🧑🍳). Um detalhe muito importante na definição do cardápio é evitar alimentos fermentativos e bebidas gaseificadas, pois a plicatura muscular realizada na cirurgia e a restrição causada pela cinta compressiva pós-operatória aumentam bastante o desconforto gerado pelos gases. Também é fundamental garantir a ingestão de fibras e de bastante líquido, porque não há como manter o nível de atividade e movimentação depois de uma cirurgia de grande porte, e essa inatividade reduz bastante o funcionamento do intestino, resultando invariavelmente em constipação. Se estiver em dúvida sobre como fazer esse planejamento alimentar, não hesite em procurar um Nutricionista.
Organize seu guarda-roupa: deixe separadas as peças de roupa mais confortáveis e fáceis de vestir, como blusas abertas, vestidos ou calças largas, porque não será fácil vesti-las nos primeiros dias depois da cirurgia. Lembre-se também de que precisam ser peças bem folgadas, para acomodar o volume dos curativos e da cinta compressiva que estarão por dentro, e principalmente fáceis de lavar, pois pequenos "vazamentos" podem ocorrer através dos curativos ou drenos.
Redecore sua casa: esse é o momento de deixar a elegância de lado para focar na praticidade. Se sua casa possuir mais de um andar, deixe sua cama onde possa minimizar o uso de escadas, e ao mesmo tempo próxima de seus pertences habituais porque não será fácil levantar-se da cama a todo o momento. Garanta a disponibilidade de almofadas, travesseiros ou cobertores que possam ser usados como apoio na cama (como almofadas anti refluxo ou travesseiro), pois você precisará de vários pontos de contato para garantir a posição reclinada necessária para diminuir a tensão na incisão cirúrgica.
Medicamentos: é um assunto normalmente abordado nas consultas pré-operatórias, mas nunca é demais relembrar que todos os medicamentos (inclusive fitoterápicos) precisam ser informados ao cirurgião, porque alguns deles precisam ser suspensos com bastante antecedência (não adianta só pular a dose do dia da cirurgia...) Por exemplo, os aparentemente inofensivos anti-inflamatórios (como o famoso AAS) atrapalham o funcionamento das plaquetas por até uma semana depois da última dose, predispondo a maior sangramento. Mais recentemente, o uso das famosas "canetas emagrecedoras" pode resultar em acúmulo de resíduos no estômago, e aumentar significativamente o risco de pneumonia aspirativa durante o procedimento anestésico. Converse com seu cirurgião e/ou anestesista com antecedência para certificar-se do prazo certo para suspender seus medicamentos.
Embelezamento: muitas pacientes se preocupam com a aparência no momento da cirurgia, e não há nada de errado com isso. Aliás, é um bom momento para deixar "tudo em dia" porque você não poderá fazer isso nas semanas seguintes à cirurgia. Gostaria de chamar atenção apenas para pequenos detalhes que não são discutidos habitualmente nas consultas, mas que podem facilitar bastante sua jornada pelo centro cirúrgico: primeiramente, certifique-se de que seus brincos, anéis, alianças e piercings são de fácil remoção, pois qualquer metal em contato com a pele pode desviar a corrente do bisturi elétrico e causar queimaduras durante a cirurgia. E, se estiver pensando em depilação, nunca use lâmina nos locais próximos à cirurgia, uma vez que uma simples foliculite pode evoluir para uma séria infecção de sítio cirúrgico. Além disso, não se apegue muito ao esmalte em suas unhas, pois como ele costuma atrapalhar o sensor do oxímetro (aparelho que mede a saturação de oxigênio no sangue), é possível que um ou outro dedo tenha sua decoração removida para assegurar a precisão dessa avaliação.
Espero que façam bom uso desses conselhos e que tenham uma jornada transoperatória tranquila! Fiquem à vontade para usar os comentários e contribuir com dúvidas ou sugestões - assim poderemos ajudar mais pessoas que buscam informações sobre a abdominoplastia.
Veja também os demais artigos da série de cuidados para a abdominoplastia:
Parte 1 - Antes da cirurgia
Parte 3 - Primeiras semanas de pós-operatório (em breve)
Parte 4 - Cuidados tardios (em breve)
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